
A trajetória de Constantino de Oliveira, mais conhecido como Nenê Constantino, é um exemplo raro de como visão empreendedora, ousadia e persistência podem mudar um setor inteiro. Dono de uma das histórias mais marcantes do transporte brasileiro, ele saiu de uma infância humilde para se tornar um dos maiores empresários do país, com atuação nos segmentos rodoviário, aéreo e ferroviário.
Ao longo de décadas, construiu e expandiu impérios como a Gol Linhas Aéreas e o Grupo Comporte, impactando milhões de passageiros todos os dias.
Origens simples e primeiros passos nos negócios
Nascido em 1931, em Patrocínio (MG), Nenê Constantino cresceu em uma família de poucos recursos e não chegou a concluir o ensino primário. Desde cedo, precisou trabalhar para ajudar em casa e, ainda adolescente, já fazia transporte de cargas. Foi durante uma dessas viagens, levando manteiga de Paracatu (MG) até Recife, que percebeu uma oportunidade: aproveitar o trajeto de volta para levar passageiros.
Sem imaginar, aquele improviso, marcado pela inscrição “Rio–São Paulo” pintada no próprio caminhão, seria a semente de uma carreira gigantesca no transporte de pessoas. Poucos anos depois, em 1957, ele fundou o Expresso União em sua cidade natal, empresa que cresceu atendendo a demanda por deslocamentos em uma época de expansão econômica e urbanização acelerada.
Consolidação no transporte rodoviário
A partir da década de 1990, Nenê Constantino adotou uma estratégia ousada: adquirir empresas de ônibus em dificuldade financeira e reestruturá-las. Com isso, conseguiu ampliar rapidamente sua atuação, chegando a controlar uma das maiores frotas do Brasil.
Seu grupo passou a operar milhares de veículos e transportar cerca de 1,2 milhão de passageiros por dia, atendendo capitais e cidades do interior. A gestão firme, o foco em eficiência e a capacidade de enxergar oportunidades em momentos de crise foram marcas de sua liderança.
A entrada nos céus com a Gol Linhas Aéreas
Em 2001, Constantino surpreendeu o mercado ao criar a Gol Linhas Aéreas. Apostando no modelo “low cost”, comum nos Estados Unidos e Europa, ele democratizou o transporte aéreo no Brasil. A companhia começou com rotas estratégicas, como Brasília–São Paulo, e rapidamente conquistou espaço, tornando-se uma das líderes do setor.
O sucesso da Gol provou que o empresário não estava limitado a um único modal. Sua visão ia além das estradas e incluía um projeto amplo de mobilidade, conectando o país por diferentes meios.
O poder do Grupo Comporte
O crescimento dos negócios rodoviários e a experiência no setor aéreo deram origem ao Grupo Comporte, controlado pela família Constantino. Com sede em São Paulo, o conglomerado expandiu para o transporte ferroviário e urbano, operando cerca de 7.200 ônibus em mais de 700 municípios distribuídos por 13 estados e no Distrito Federal.
O grupo venceu importantes concessões, como a operação das linhas 11, 12 e 13 da CPTM, o Trem Intercidades São Paulo–Campinas, o metrô de Belo Horizonte e o VLT da Baixada Santista. Essas conquistas consolidaram a presença da família Constantino em praticamente todos os principais modais de transporte coletivo do Brasil.
Reconhecimento e controvérsias
Apesar de seu sucesso empresarial, a trajetória de Nenê Constantino também foi marcada por polêmicas. Ele enfrentou processos e condenações por homicídio, envolvendo casos ocorridos nos anos 2000, cujas sentenças foram posteriormente anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça em 2022.
Também enfrentou acusações relacionadas a condições de trabalho e dívidas fiscais. Esses episódios, embora controversos, não apagaram o reconhecimento que recebeu no setor. Em 2024, aos 93 anos, foi homenageado no BusBrasil Fest, evento que reuniu ex-funcionários, empresários e entusiastas do transporte.
O legado de Nenê Constantino
A história de Nenê Constantino é marcada por contrastes. De um lado, está o pioneiro que ajudou a modernizar e integrar a mobilidade brasileira, criando empresas que transportam milhões de pessoas todos os dias. De outro, está o personagem envolto em controvérsias jurídicas e críticas à sua forma de gestão.
No entanto, é inegável que sua visão estratégica transformou o transporte coletivo no Brasil. Ao apostar em diferentes modais e buscar constantemente oportunidades de expansão, ele construiu um legado que continuará influenciando o setor por muitos anos.